quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Pedro Álvares Cabral: Três Túmulos Para Um Homem Só

Santarém tem uma relação de amor com
Pedro Álvares Cabral.
A cidade garante ser o local da sepultura definitiva
do descobridor do Brasil, mas do outro lado do Atlântico também há quem defenda
que os restos mortais de Cabral foram transladados para o Brasil no inicio do século XX.
Em Belmonte, terra onde nasceu, estarão sepultados outros restos
mortais do marinheiro português.

Pedro Álvares Cabral, nasceu em Belmonte, na Beira Baixa, numa família nobre, por volta 1467. Com 33 anos foi nomeado pelo rei D. Manuel I comandante da segunda armada que viajou da Europa até à Índia. Saiu de Lisboa a 9 de Março de 1500 com uma esquadra de 13 navios e cerca de 1500 homens, na época a maior em Portugal e apontada como a mais bem equipada de todo o século XV a nível mundial.
Dois meses depois, um desvio de rota para ocidente, em busca de ventos favoráveis, levou à descoberta - quase acidental - do Brasil, a 22 de Abril, baptizado então como Ilha de Santa Cruz. Desembarcaram na zona hoje conhecida como Porto Seguro, no sul do actual estado da Bahia, e retomaram a rota original a caminho da Índia.
A que restou desta armada, regressou a Lisboa a 31 de Julho de 1501 com apenas seis navios, embora todas as embarcações estivessem carregadas de especiarias e outros produtos locais. Consta mesmo que Cabral terá sido escolhido mais pelas suas reconhecidas capacidades militares do que propriamente pela sua experiência náutica.
Em 1502 foi convidado a comandar a 3ª expedição ao Oriente, mas desentendeu-se com o Rei e caiu em desgraça.
A partir desse ano, fixa-se em Santarém à espera de ser chamado ao serviço da Coroa, mas nunca mais lhe foi atribuída qualquer missão oficial. Ao longo dos anos terá tentado reaproximar-se da Corte, mas Dom Manuel nunca lhe perdoou. Contudo, o Rei não o esqueceu e concedeu-lhe benefícios a partir de 1515.
Em Santarém – na altura a segunda cidade do Reino – instala-se na moradia que hoje é conhecida como Casa Do Brasil, no agora chamado Largo Pedro Álvares Cabral. Morreu por volta de 1520, relativamente esquecido, e foi sepultado em campa rasa num túmulo provisório. Quando faleceu a sua esposa, Dona Isabel de Castro, em 1538, o corpo do marinheiro foi exumado e a família Cabral ganhou um jazido definitivo na Igreja da Nossa Senhora da Graça

Na lápide tumular recordam-se apenas os méritos de Isabel de Castro e não referem uma só palavra sobre os feitos de Pedro Álvares Cabral, como a descoberta do Brasil, proeza que lhe garantiu um lugar na História. O facto dos escritos homenagearem apenas a esposa do marinheiro, leva a que alguns estudiosos digam que isso é a prova da obscuridade a que Cabral foi submetido nos últimos anos de vida.
Orgulhoso, irascível e conflituoso, Cabral provocou várias contendas na corte lisboeta do seu tempo e criou inimizades um pouco por todo o lado. As suas famosas crises de mau humor seriam provocadas por febres crónicas, doença que o perseguia desde os 17 anos de idade, quando lutou em Marrocos e contraiu Malária.
O jazigo foi aberto em Agosto de 1882 para confirmar a presença de Cabral e foram encontradas três ossadas humanas, duas masculinas e uma feminina. Supõe-se que além do casal, o terceiro esqueleto pertenceria a um dos filhos que morreu pouco depois do pai. A falta de recursos na época não permitiu qualquer conclusão sobre a identificação dos corpos.
Causou ainda estranheza a presença do esqueleto de uma cabra no interior do túmulo, mas para muitos isso provava que dentro daquela sepultura jazia Pedro Álvares Cabral: o escudo dos cabrais ostenta dois destes animais.
No panteão dos cabrais, em Belmonte, existe igualmente uma arca tumular de granito que contém cinzas retiradas do túmulo de Pedro Álvares Cabral localizado na Igreja da Graça em Santarém. Foram oferecidas em 1961 pela Câmara de Santarém.
Apesar dos vestígios em Portugal, no Brasil há quem garanta que aqui também se encontram restos mortais de Cabral. Por volta de 1903 foi reaberto o jazigo da Igreja da Graça. Desta vez o sepulcro continha oito corpos, cinco ossadas masculinas, uma feminina e duas de crianças.
Segundo historiadores brasileiros optou-se por uma solução simplista: dividiram-se os ossos, formaram-se dois esqueletos completos. Um ficou em Portugal e outro terá sido depositado na Igreja do Carmo, antiga Catedral Metropolitana do Rio de Janeiro.
Estudiosos portugueses apontam outra justificação para a existência desta urna. A própria lápide brasileira não refere restos mortais, mas sim ‘resíduos mortuários’, que seriam terra retirada do túmulo original e guardada numa urna que fora levada para o Brasil. Oficialmente nunca foi
autorizada qualquer transladação.
Carlos Quintino

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